segunda-feira, 28 de outubro de 2024

Som e Fúria 1 e 2 (atualização da postagem do dia 16/07/2014)

Este filme conta e mostra a história - real e com a própria personagem principal do enredo - de uma família em que o pai, a mãe e os três filhos nasceram sem a audição. O pai e a mãe são usuários de língua de sinais e ensinam seus filhos também a usarem esta língua. A filha mais velha, aos cinco anos, se interessa pelo Implante Coclear, influenciada pela avó paterna e aí o desenrolar do filme é sobre a decisão dos pais em permitir ou não a cirurgia. Vale a pena conferir e conhecer a história real da menininha que luta por ouvir. Estou postando aqui o link do Sound and Fury com legendas em português e também da continuação da história (um curta), que acontece seis anos depois.

Meus agradecimentos á amiga Renata Orsi, atualmente bi-implantada, por ter me indicado o filme.

terça-feira, 13 de junho de 2023

Meus 10 anos de Implante Coclear

“Procurando o mundo dos sons, encontramos um mundo de amizades”

Este foi o lema de um dos Encontros Anuais das Pessoas com Implante Coclear, organizados pela FIC – Família do Implante Coclear, há alguns anos. Ele só reflete o que temos vivenciado em nossa busca pelo mundo sonoro, aprendendo mais e mais sobre o Implante Coclear.

Em minhas vivências nessa jornada, encontrei muita gente. Muitos que vieram para os mesmos caminhos sonoros. Muitos que se foram para outras vivências e alguns que ficaram, nos ajudando e apoiando na divulgação e suporte aos novos que chegavam.

Uma dessas pessoas, uma das mais animadas, era a Alessandra Cristofano. Chegou, pesquisou, aprendeu, implantou e... ficou conosco, recebendo sempre com muito carinho e prestatividade aqueles que chegavam cheios de dúvidas, medos, ansiedades...

Vivenciou conosco todos os processos: a expectativa, a cirurgia, a ativação, os primeiros sons, os treinamentos e, logicamente, as agruras pra cuidar da manutenção do processador.

Em cada etapa, a Alessandra registrou não apenas mentalmente, mas também no bloguinho dela, muito gentil e diligentemente, para compartilhar com os que chegavam.

De gente assim que precisamos sempre. Desbravando e compartilhando com outros.

Desejamos pra Alessandra mais e mais sucessos nessa jornada sonora e que compartilhe sempre conosco essas emoções e conquistas.

 

Texto por Roner Dawson

 


 Agradeço ao Roner pelo texto. Confesso que fiquei emocionada ao ler, pela forma como ele me descreveu chegando, ainda que de mansinho, no mundo dos sons. Começou a passar um filme na minha cabeça.

No dia que conheci o Implante Coclear pela primeira vez, numa consulta em meados de 2012, peguei o acessório na mão e trouxe para casa numa maletinha, para que minha família conhecesse. Até então achava que não teria solução para minha deficiência auditiva. Mas ouvi um sonoro “Hoje você pode!”

Fui estudando a possibilidade e então conheci uma amiga que havia dois anos que era implantada (conto aqui no blog). Ela e seu companheiro passaram uma tarde comigo, me mostrando como foi tudo. Não só as coisas boas, mas as chatas também, tudo que faz parte desse processo.

Chegou 2013 e eu ainda pensando. Compareci então no encontro verão de implantados, no Shopping Dom Pedro, e conheci Roner e a galera. Foi aí que decidi fazer.

Dia 17 de abril daquele mesmo ano, me internei no Hospital Madre Theodora e fiz a cirurgia de IC. Saí no dia seguinte, com o famoso turbante. Correu tudo na mais perfeita ordem, a cirurgia e a recuperação.

Dia 21 de maio foi o dia de ativar. Gente! Uau! Foi aí que começou a verdadeira história do mundo dos sons. Comecei a ouvir sons que nunca ouvia antes. Comecei a perceber que algumas (muitas) coisas tinham som. E comecei a ouvir sons que estava habituada antes, mas numa proporção muito mais alta, um som mais claro. E comecei a perceber, entre outras coisas, sons externos também.

Como esse é um texto para comemorar meus dez anos, não vou escrever tudo o que aconteceu nesse meio tempo, mesmo porque já escrevi aqui no blog muita experiência que vivi (até 2020).

Amigas de longa data.
Meu círculo de amizade com irmãos implantados (como chamo meus amigos de IC) foi aumentando e cresce até hoje. E cresce também o mundo sonoro, sempre um som diferente. Principalmente quando fiz o upgrade do N5 para o N6, que foi ano passado. Outra tecnologia, outros sons novos. Confesso que no começo relutei bastante (igual quando tive que trocar meu AASI analógico pelo digital). Mas após a audiometria mostrando que melhorou com relação à última, fiz um esforço de insistir e persistir. A vida é assim mesmo, precisamos nos adaptar a novas mudanças, ainda mais pra melhor. No começo de tudo foi difícil a fusão de dois sons diferentes: do AASI e do IC. Mas graças a Deus hoje não consigo ficar somente com um, preciso dos dois. Persistência.

Ano passado não foi só o ano do meu upgrade. Foi também o ano do meu ingresso na UFSC, onde estou cursando Letras Libras Licenciatura EaD, presencial a cada 15 dias, no polo UFABC de Santo André. Recebi ainda nesse ano dois convites e hoje faço parte da diretoria da ASSUCAMP (Associação dos Surdos de Campinas) e sou conselheira do CMS (Conselho Municipal de Saúde) de Campinas. Em ambos busco lutar pelos benefícios e direitos dos surdos de Campinas.

Para encerrar esse texto comemorativo dos 10 anos de implante coclear, quero compartilhar aqui alguns dos novos sons que consegui captar com o N6. Estava lavando a louça e ao colocar o prato no escorredor de metal, ouvi o tilintar (gente, é muito legal!); quando estava abrindo a massa de pão depois do tempo de crescimento, conforme rolava o pau de macarrão, escutava as bolhas dentro da massa estourando (melhor que estourar bolhas de plástico hehe); e o mais interessante, quando fui acender o fogão, eu ouvi o fogo (isso mesmo), na hora que acende ele faz um uuuuuoff... Gente, que som maneiro! Não sei como explicar a sensação de ouvir esses sons, que para mim, não existiam. Só sei agradecer a Deus pela possibilidade de ouvir novos sons com o Implante Coclear. A Ele toda honra e toda glória!

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2020

Dia Mundial da Audição


Dia 3 de março é o Dia Mundial da Audição. Esse dia foi criado pela OMS (Organização Mundial da Saúde) em 2007, quando se deu o primeiro evento, numa campanha que promovia a prevenção da perda auditiva e informações de cuidados auditivos.  

A cada ano, a OMS seleciona um tema, desenvolve materiais educacionais e os disponibiliza gratuitamente em vários idiomas, além de coordenar eventos em todo o mundo. O tema para esse ano é “Don't let hearing loss limit you. Hearing for life”, ou seja, “Não deixe a deficiência auditiva limitar sua vida. Audição para a vida inteira.” Segundo o site heart-it, será realizado (e transmitido pelo próprio site) um debate pela ocasião do Dia Mundial da Audição, no dia 4 de março, no Parlamento Europeu.

Eu gosto muito desse dia, porque é direcionado não somente para os que já sofreram a perda auditiva, mas também aos que ainda não passaram por isso. 

Você sabia que 360 milhões de pessoas do mundo todo sofrem - nos dias atuais - de problemas auditivos? Ou que tais problemas auditivos se devem a causas diversas, entre elas: doenças infecciosas, questões genéticas, complicações no momento do nascimento, uso de certos medicamentos, excesso de ruído e envelhecimento?

Ou ainda que milhões de adolescentes e jovens adultos poderão vir a sofrer por ouvirem música com o volume excessivamente elevado?  

Para ter uma ideia de que o perigo pode estar mais próximo que você imagina, veja isso: de acordo com a OMS, o nível de ruído em concertos e bares é muito elevado assim como o volume nos dispositivos de áudio e nos headphones, expondo cerca de 50% dos jovens entre os 12 e os 35 anos.

Mas fique tranquilo. Pensando nisso, a OMS criou um aplicativo que ajuda a detectar perda auditiva. Ele se chama hearWHO e é disponibilizado gratuitamente. O hearWHO funciona emitindo uma sequência de números falados, acompanhado de um ruído variável de fundo para a pessoa tentar identificar. Ao final do teste, ele faz uma média para ver o quanto a pessoa conseguiu identificar corretamente. Se for mal no teste, ele te aconselha a procurar um otorrinolaringologista.

Lembrando também que é válida a opção de procurar periodicamente um médico especialista da audição, o otorrinolaringologista, para verificar a saúde auditiva. Na dúvida, faça uma audiometria com uma fonoaudióloga de confiança.

Vamos cuidar da audição?


Logotipo do Dia Mundial da Audição (wikipedia)

terça-feira, 14 de maio de 2019

Festival de Artes Inclusão na Diversão - Campinas

O Festival de Artes Inclusão na Diversão, que aconteceu na cidade de Campinas em três parques e datas diferentes, nasceu de um projeto escrito pelo Centro de Referência da Pessoa com Deficiência (CRPD), de autoria da psicóloga Késia Oliveira, para um concurso em que obteve o primeiro lugar no estado de São Paulo e foi promovido pela Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo, através do ProAC (Programa de Ação Cultura). 
O primeiro festival aconteceu dia 01/12/2018, no Parque das Águas; o segundo dia 16/02/2019, na Pedreira do Chapadão e o terceiro dia 04/05/2019, no Parque Ecológico Dom Bosco.

Os eventos foram gratuitos e tiveram apresentações musicais, de dança e teatro, além da participação dos personagens da Turminha Inclusão na Diversão (o mesmo nome do festival), os bonecos em formato de fantoches, baseados em cinco crianças reais, que são Sofia (representando deficiência visual); João Victor (representando deficiência motora); Enzo (representando deficiência intelectual); Isabela (representando deficiência auditiva) e Jade (sem deficiência, representando a inclusão).



Os festivais começavam sempre às 14:00 horas e se encerravam às 17:00 horas, e eram divididos em dois momentos. Em um primeiro momento, no período das 14 as 15:30 horas, as atrações foram interativas e aconteciam as oficinas do Incluir Brincando, com quatro tendas que traziam informações e atividades acerca das quatro modalidades da deficiência: física, intelectual, auditiva e visual. Em cada tenda, uma instituição que cuida da referida deficiência era responsável por oficinas que mostravam de forma lúdica as limitações desta deficiência. Por exemplo, na tenda da deficiência auditiva, a Apascamp (Associação dos Pais Amigos Surdos de Campinas) ensinava através de dominó e desenho os sinais da Libras. Tivemos também a participação da Casa da Criança Paralítica, Centro Cultural Louis Braille e SORRI Campinas.


Neste primeiro momento havia também uma quinta tenda chamada Palco das Profissões (na qual fui protagonista) com objetivo de demonstrar capacidades e habilidades profissionais de pessoas com deficiência. Nesta tenda, cinco pessoas deficientes e com carreira profissional sólida, demonstraram seus trabalhos e conversaram com a população, dispostas a fornecer informações acerca das suas profissões, respondendo perguntas e desfazendo os preconceitos. 





No segundo momento do festival, que durou entre 15:30 até 17:00, aconteceu a apresentação do teatro de bonecos com a Turma do Bairro com acessibilidade em Libras e do grupo Humaniza Dança. 







Durante todo o festival houve distribuição de pacotes de pipocas e de balão branco inflado com gás hélio. Na entrada do Festival o palhaço Perna de Pau recebia o público e o guiava às tendas. 


No encerramento, todos os presentes participavam com o gesto simbólico de soltar as bexigas com a frase "Solte seu Preconceito".



sábado, 9 de dezembro de 2017

Dia do Fonoaudiólogo



Hoje é comemorado o dia do fonoaudiólogo, aquele que cuida de pessoas que têm dificuldades na fala, audição, escrita e leitura. E por que hoje? Porque foi no dia 9 de dezembro de 1981 que a profissão foi regulamentada, como podemos conhecer a história da fonoaudiologia aqui.

Eu não poderia deixar passar em branco essa data muito querida e especial e resolvi fazer o quê? Escrever sobre todos os profissionais da fala e audição pelos quais eu passei desde a minha perda de audição, com ajuda de mamãe, claro, minha super heroína. Foi ela quem me socorreu nesse momento em que eu estava começando a falar, para que não perdesse o fio da meada e deixasse de desenvolver minha fala. Ela que está me ajudando a escrever aqui. Obrigada mãe, sei que você precisou fazer uma forcinha para lembrar de todos os profissionais possíveis, pois já faz tempo...  

Mamãe conta que, já em Campinas e após minha consulta com o otorrino Doutor Raul Renato, fiz minha primeira audiometria com 2 anos e 11 meses, no dia 1/12/1976 (prestes a fazer 3 anos) e em seguida fui encaminhada à PUCC (Pontífica Universidade Católica de Campinas). Lá fiz exames para conseguir vaga em escola especial, mas a especialista que me atendeu achou que não era necessário, pois eu "ouvia" alguma coisa e lá era para quem não ouvia nada. 

Minha primeira audiometria.


Depois disso minha mãe procurou outro otorrino, Doutor Luis Henrique Escudero, que segundo ela atendia na rua José Paulino na altura da Auto Escola Líder, no Centro de Campinas. Ele encorajou minha mãe para que eu usasse AASI (aparelho de amplificação sonora individual, o aparelho comum) e que eu estudasse em escola de ensino regular, juntamente com crianças que ouviam. Como na minha cidade natal (Ilha Solteira) não havia aparelhos e outros recursos, meus pais pensaram na possibilidade de se mudarem para Campinas.

Enquanto isso não acontecia, eu comecei a usar um aparelhinho de caixinha e com dois fios nas orelhas e mamãe me levava a profissionais da fala e audição, que naquela época não se chamava fonoaudiólogo. A primeira foi na Ilha Solteira, a qual minha mãe não recorda o nome. Depois comecei a ir em uma na cidade de Presidente Prudente, ou seja, minha mãe viajava para me levar lá. Também não sabemos seu nome.

Em meados de 1979/1980, nos mudamos para Campinas e já comecei a me consultar com o Professor Sylvio Bueno Teixeira, um mestre em ortofonia (articulação perfeita dos sons de uma língua; arte de corrigir os vícios da pronúncia) que trabalhou muito minha fala e aprendi a fazer leitura labial de frente e de perfil com ele. Ele escreveu "A voz e a fala do surdo congênito", "Problemas da voz e da fala", “Dificuldades da leitura, da escrita e da fala”, entre outros, e teve uma intensa atividade jornalística. Lembro-me com muito carinho da sua dedicação, inclusive ao piano, tocando a nota para que eu cantasse. Ele tinha o consultório no cruzamento da avenidas Francisco Glicério e Campos Sales, onde o prédio está até hoje. Faleceu em 1991 aos 82 anos e hoje há uma rua com seu nome na cidade em sua homenagem. Saiba mais sobre sua biografia neste site. A ele minha gratidão, pois o Professor Sylvio foi extremamente importante em uma fase em que eu mais precisava de acompanhamento de fonoterapia.

Algum tempo depois comecei a consultar com uma fonoaudióloga jovem, que se chamava Solange, se não me engano era esposa de otorrino, e atendia em uma clínica da rua Eduardo Lane, no Guanabara. Lembro-me de que um dia estava em aula no pré e ela entrou na minha sala! Foi conversar com a minha professora sobre como eu estava acompanhando as aulas e se conseguia entender as matérias. Acho que isso faz parte da profissão, buscar informações na escola e na família.

Depois dela, comecei a me consultar com uma outra fonoaudióloga, Neusa, uma senhora muito simpática, dedicada, carinhosa e que atendia no centro da cidade. Nessa época, eu já andava de ônibus e ia sozinha às consultas.  

Aos 12 anos já não fui mais, por decisão minha. Nesse período, só tive contato com fonoaudiólogas em audiometrias para regular aparelhos e para tirar CNH. Até que um dia fiz um teste de aparelho com a fono Elaine Soares e ela me contou sobre o Implante Coclear, já em meados de 2012. Em 2013 fiz o IC e Elaine foi responsável pela minha ativação e mapeamento por dois anos. Sou muito agradecida a ela por ter me mostrado o IC, o que mudou muito minha audição.

Em 2014 comecei a fazer fonoterapia com a querida Nirley Moreira que atende na clínica da Unimed, que antes ficava no Guanabara e agora fica no Botafogo. Nirley me ajudou muito na adaptação no implante coclear, com exercícios de sons, aplicativos de celular e site de treinamento e reabilitação auditiva para treinamento em casa. Recentemente tive alta, mas tenho contato com ela sempre que posso. Ficamos amigas. Ela vai sempre morar no meu coração.

Uma fonoaudióloga que me ajudou muito a encontrar um aparelho digital ao qual eu me adaptasse foi a Regina Antoniolli, também especialista em fonoterapia de implantados e reabilitação auditiva. Em 2016, seus pacientes fizeram uma linda homenagem a ela, da qual eu tive a honra de participar. Tenho enorme gratidão a ela.

Quem me ajudou muito na transição do aparelho analógico para o digital foi a fonoaudióloga Raquel Gonçalves. O seu profissionalismo e amor à profissão foi o que me levou a me adaptar facilmente ao aparelho digital, o qual tenho lutado para conseguir desde 2010. Obrigada, Raquel, você foi muito importante para mim! 

Hoje em dia faço mapeamento do implante coclear uma vez por ano com a fono Luciane Calonga, que me ajudou muito em uma fase difícil de adaptação com IC, após ficar quatro meses sem ele. Ela me passou várias informações importantes para a devida adaptação do implante coclear e tenho vários amigos que também são pacientes dela e a amam. Todos a elogiam pelo carinho dedicado e profissionalismo dispensado, o que me  motivou a procurar pelo seu atendimento, que leva mais de uma hora, mas que não percebo pois ela é muito divertida! Agradeço muito a ela pela paciência comigo.

Agradeço muito a Deus pela vida desses queridos profissionais que eu citei acima, também daqueles que eu conheci mas não foram citados e deixo aqui minha homenagem a eles e a todos os fonoaudiólogos do Brasil e mundo afora!  

Agradecimentos ao amigo Samuel pela criação do logo. Valeu, Samuca!

segunda-feira, 20 de novembro de 2017

Direitos do Deficiente Auditivo

Esta postagem é continuação da anterior, sobre Alagoinhas. Em sua caminhada ajudando outros, Samuel pesquisou e descobriu alguns direitos e benefícios do deficiente auditivo e nos dá essa informação em seu texto.


Retirei da internet alguns dos direitos que tenho informado a algumas pessoas e acreditem, elas nunca souberam a respeito.

Direitos dos deficientes auditivos

Os direitos das pessoas com deficiência foram criados para buscar equalizar as condições dos cidadãos. Isso significa que as leis foram desenvolvidas para suprir ao máximo as necessidades dos deficientes auditivos, ao proporcionar a eles melhores condições para a convivência em sociedade, de forma que os problemas causem menos danos à rotina.

Dentre os direitos e benefícios disponibilizados pelo governo aos deficientes auditivos estão:

Transporte público

Toda pessoa com deficiência auditiva e carência comprovada tem direito ao passe livre (gratuidade em ônibus, trem e metrô).
As pessoas interessadas em adquirir o benefícios devem se cadastrar em programas específicos de passe livre do governo, entrando neste link.
Vale lembrar que a gratuidade depende da legislação de cada cidade, mas a maioria dos estados já efetivou esse direito às pessoas com deficiência auditiva.

Aposentadoria especial

Pessoas com deficiência auditiva possuem direito à aposentadoria especial, segundo a lei 142/2013. 
Para tirar dúvidas específicas sobre o assunto, é possível consultar a página da Previdência Social aqui.

Espetáculos artísticos, culturais e esportivos

A lei (12.933/13) garante  pessoa à com deficiência, 50% de desconto no acesso a espetáculos artísticos, culturais e esportivos, conforme a lei que entrou em vigor em 2015.
O acompanhante da pessoa com deficiência (nos casos necessários) também tem direito aos descontos.

Isenção de imposto de renda para aposentadoria de deficientes

O Projeto de Lei 6990/10 isenta do imposto de renda os proventos de aposentadoria de pessoas com deficiência física, auditiva, visual e mental.

Assistência Social

Quando a pessoa com deficiência auditiva for incapaz de trabalhar e ser comprovadamente carente, tem direito ao benefício de assistência social.
Para conseguir tal direito é necessário passar por perícias do INSS para que a incapacidade seja comprovada.

Acessibilidade a programas de TV

As emissoras de TV devem incluir nas programações um intérprete de LIBRAS para que as pessoas possam acompanhar os programas.
Essa é uma lei que muitas vezes é negligenciada, mas alguns canais já oferecem programas com Libras simultaneamente.

Estudos

A educação é um direito de todos e, por isso, programas do governo tais como o PROUNI, concede bolsas de estudo parciais e integrais a estudantes com deficiência.
Para maiores informações, acesse o portal do MEC.
O Programa de Acesso à Universidade (INCLUIR), apoia projetos de instituições federais de ensino superior e promove acessibilidade a pessoas com deficiência física e mental aos espaços acadêmicos e aos diferentes cursos ofertados.

Auxílio do SUS

Conforme os artigos 18, 19 e 20 do Decreto 3298/98 a pessoa com deficiência auditiva possui direito a obter gratuitamente órteses e próteses com as autoridades de saúde a fim de compensar as limitações auditivas.

Empregos

O governo estabelece reserva de vagas de emprego para pessoas com deficiência (habilitadas) e para as pessoas que sofreram acidentes de trabalho (consideradas reabilitadas). 
A Lei de Cotas (Lei 8.213 de 24 de Julho de 1991) prevê que todas as empresas privadas com mais de 100 funcionários devem preencher de 2 a 5% das suas vagas com pessoas que possuem algum tipo de deficiência, seja ela física ou mental.
  • Empresas que possuem de 100 a 200 funcionários devem reservar 2% das vagas;
  • Empresas entre 201 e 500 funcionários devem reservar 3%;
  • Empresas entre 501 e 1000 funcionários devem reservar 4%;
  • Empresas com mais de 1001, devem reservar 5%.


Lei de Libras

É reconhecida como meio legal de comunicação e expressão a Língua Brasileira de Sinais – Libras.
Sendo assim, deve ser garantido o direito a intérpretes em órgãos públicos e universidades. Para mais informações, acesse o portal do Plantalto.

Concurso público

Pessoas com deficiência auditiva bilateral podem se candidatar à vagas especiais em concursos públicos.
O artigo 37 do Decreto 3.298/1999 repete a Constituição Federal ao determinar que se reserve o percentual mínimo de 5% das vagas dos concursos públicos ao portador de necessidades especiais.



domingo, 19 de novembro de 2017

S.O.S. Alagoinhas da Bahia

Samuel é morador da cidade de Alagoinhas, na Bahia, e tem contado aos amigos mais próximos sobre seu trabalho com os surdos da sua cidade. A meu pedido, ele escreveu o texto a seguir, sobre as dificuldades de quem está nessa situação passa em busca de audição, ou melhor, em busca de som. Que este texto sirva de alerta para que algo possa ser feito para melhorar a situação precária e falta de assistência aos deficientes auditivos dessa e de outras cidades do Brasil.


Olha eu aqui fazendo novamente uma alusão referente a audição e desta vez falarei sobre desertos, sobre a busca de um oásis que se esconde em um deserto. Hoje faço uma comparação da minha busca insistente pela audição, como um “caminhar no deserto”. Quem caminha no deserto sempre tem a esperança de encontrar um oásis, porque dizem que todo deserto esconde um. Será? Talvez sim, talvez não. Quem sabe? Minha busca por esse oásis vem de longas datas e não posso deixar de buscar, não mais apenas por mim, não apenas para alimentar meu egoísmo, mas a busca precisava ser horizontal e não apenas na cegueira do “eu vertical”. Somente quem viveu as delícias da audição não vai parar de buscar esse oásis, ainda que essa busca dure toda vida, ainda que ele não seja para meu desfrute, ainda que o cansaço queira me parar, eu continuarei buscando o “oásis da audição” para mim ou para alguém, porque ver a alegria do saindo do silêncio, que parecia não acabar nunca, me faz esperançar de que o melhor está por vir, que por diversas vezes iremos de fato perder a luta porque não somos de ferro, temos nossos medos e receios, mas a guerra ainda não está perdida porque “há esperança para a árvore que, ainda que seja cortada, ainda que no chão seu tronco, de velho, venha a morrer, ao cheiro das águas brotará e dará frutos como uma planta nova”. 

E foi assim que percebi o quanto “poderia ouvir”, descobrindo esse oásis para alguém, para quem realmente quer desfrutar dessa delícia do ouvir ou voltar a ouvir, mas não sabe nem por onde começar, porque não existe informação, não existem indicadores, não existem incentivadores, facilitadores.

Também fui vítima dessa desinformação, dessa falta de comunicação sobre direitos e gratuidades que existem para facilitar a vida de quem tem suas deficiências e limitações, porque não há quem informe, não há quem se interesse em lhe encaminhar, não existe quem lhe dê o peixe, muito menos quem o ensine a pescar. E foi por causa de tudo isso que vivi do tempo da minha perda até hoje, que resolvi ser um canal de informações para os surdos e deficientes auditivos da minha cidade, ser um facilitador dessa busca, desse comunicar, desse conscientizar de que existem instituições que deliberam por parte do governo aparelhos auditivos, implante coclear e até mesmo gratuidades de exames auditivos que, diga-se de passagem, aqui na cidade não fazem nenhum pelo SUS e as clínicas que realizam tais exames são extremamente caras e por essas e outras coisas, que muitos deficientes auditivos daqui não sabem nem o grau de sua perda ou nunca realizaram um exame. Só sabem que não ouvem e pronto.

Deficiente auditivo desde 2011, sem sucesso nas minhas buscas pelo “oásis da audição”, resolvi fazer essa busca para quem queira e possa se beneficiar desse paraíso que é poder ouvir.

A minha cidade, Alagoinhas na Bahia, tem um número significativo de surdos e deficientes auditivos. A princípio eu pensei em um projeto que pudesse beneficiar a todos, mas alguns projetos, “nos quais não existe um interesse por órgãos governamentais”, não duram muito tempo e por vezes são até barrados pelas dificuldades que apresentam, na tentativa de interromper o incentivo alheio. E como já conheço o serviço e lentidão por partes de algumas gestões, resolvi “ser um projeto em ação”.

Parti para o campo de pesquisa. Quando me deparava com alguns a pergunta era sempre a mesma: Por que você não está usando aparelho? Faço essa pergunta “sinalizada do meu jeito”, pois ainda não fiz um curso de libras (envergonhado). A resposta que recebia era sempre a mesma e sinalizada que qualquer um poderia entender - é muito caro e eu não tenho dinheiro.
Confesso que em algumas dessas buscas rápidas, fiquei bastante confuso e pensativo...
Até que ponto a família se importa com a deficiência de seu ente querido?
Será que esses deficientes nunca foram em um otorrino que não teve a sensibilidade de informar a respeito?
Até onde vai a compaixão por parte da família, médicos, amigos e o serviço municipal?

Também não dei muita ênfase às minhas interrogações, porque seria um meio de me frustrar e em vez de entrar em ação, ficaria com as mãos atadas querendo entender algumas coisas... Não deixei que esses pensamentos fossem capazes de frustrar algo que acabara de nascer em meu coração. Também não deixei de usar meu bom humor para me responder e começar os trabalhos.
- Samuel, um cego não guia outro cego.
- Mas nesse caso é surdo. Vai que cola (risos).

Relatos de meu primeiro acompanhamento: 

Em março desse ano, uma amiga me procurou para informar que sua mãe estava perdendo a audição e precisava de minha ajuda para ver como resolver. Dona Maria de Lourdes da Cruz Araújo, de 69 anos, também é minha amiga, mas já havia um tempo não nos víamos.

Logo pedi para agilizar uma audiometria e assim constatarmos o grau da perda. Marcamos uma triagem em uma instituição de reabilitação em Salvador, uma vez que aqui na cidade não dispomos desse serviço, infelizmente. Informar que as instituições que realizam esse serviço de reabilitação ficam em Salvador não é um empecilho. O mais difícil é a disponibilidade e vontade de acompanhar o deficiente por parte da família, o que eu particularmente considero grave. Nunca há quem possa acompanhá-lo. Ou logo procuram uma programação para "se livrar" da responsabilidade ou arranjam uma desculpa qualquer. O que eu "ouvi/ouço" é sempre a mesma coisa: Quem vai acompanhar? Alguns amigos sempre me falam para não dar o peixe, mas ensinar a pescar. Porém, eu fico extremamente sensibilizado pelo deficiente que está naquela angústia da perda e não vê incentivo por parte nenhuma. Por esse motivo, eu sempre me prontifico a ser o acompanhante. 

Então eu fui até Salvador em uma dessas instituições, agendei a triagem e retornei feliz da vida. Uma alegria permeava meu ser, imaginando como dona Maria de Lourdes ficaria feliz com a marcação que já seria no mês seguinte... Quando levei os agendamentos até ela, foi de uma alegria inigualável, talvez impressão minha, mas a felicidade dela era tanta que ver os agendamentos, parecia "já estar usando os aparelhos". Todo o processo durou apenas 4 meses e eu feliz da vida pela rapidez. No dia do recebimento do aparelho, eu estava lá! Na hora de ligar o aparelho, eu estava lá! Naquele dia pude notar que dona Maria estava tão ansiosa que não queria comer, nem beber e nem ao banheiro ela foi. Quando saímos, ela estava tão empolgada e feliz que disse: - Estou ouvindo tudo, até minha "chapa" (prótese dentária) batendo. Fiquei extremamente feliz e já faço novos acompanhamentos, porque minha alegria está em buscar e desfrutar desse oásis com eles.

Continuei minha pesquisa e encontrei de tudo um pouco. Os que dizem que não têm dinheiro; os que não querem, dizem que é muito barulho; os que acham que o uso de próteses pode acabar com seu benefício de prestação continuada, e os que não querem nem saber. Diante das respostas diferenciadas e “assustadoras” percebi que tudo não passa de falta de informação e o esclarecimento sobre alguns mitos irá fazer muitos deles mudarem de ideia ou “continuarem com a ignorância”. Não quero nem saber! Uma caminhada de 300km começa com o primeiro passo e acredito que à medida que alguns começarem a ver os outros desfrutando das delícias desse oásis, logo o interesse começará a surgir, mesmo que seja mascarado pelo orgulho.

Alagoinhas, BA