quinta-feira, 17 de abril de 2014

Um ano de IC

Exatamente um ano atrás, fiz o Implante Coclear. A esta hora, um ano atrás, eu estava sozinha no quarto do hospital, assistindo TV, meio que tentando dormir. Estava super bem, nenhuma dor ou outra coisa que pudesse me queixar.

Soube que, quando cheguei no quarto, bem sonolenta após a cirurgia, a doutora Elaine, fonoaudióloga responsável pelo meu IC estava preocupada, procurando meu aparelho do outro ouvido, para eu não acordar sem ouvir. Quando achou, colocou no meu lado. Achei muito gentil da parte dela.

De fato, eu não me lembro de quase nada da pós-cirurgia. Estava tão sonolenta, as pessoas disseram que conversaram comigo e eu não me lembro de nada... Sem contar que eu amo dormir, ainda mais saindo da sedação.

Lembro sim que cheguei no quarto, me acordaram pra eu pular da maca pra cama, deitei e dormi de novo. Acordei bem depois. Ah, me lembro do Paulo também, me perguntando se estava tudo bem. Depois apaguei.

Gosto de lembrar da torcida dos parentes e de todas pessoas queridas, me desejando que tudo corresse bem na cirurgia. Lembro também que depois da cirurgia, das pessoas me perguntando: E aí, tá ouvindo? Eu explicava sorrindo: Ainda não, precisa ativar, demora um mês...

Estes dias eu estava pensando, comparando o antes e depois. Como eu ouvia antes do IC e como ouço agora com IC.

Antes do IC, eu usava somente o aparelho comum, no direito, desde meus oito anos de idade. Graças a ele, sempre pude ouvir e compreender bem, falar no telefone e entender alguém de costas ou longe de mim. Sempre pude ouvir e entender o que era qualquer som. Sim, graças ao meu velho aparelho comum analógico, que agora está com 15 anos de vida.

Depois do IC no ouvido esquerdo, eu passei a ouvir muitos sons que eu nunca tinha ouvido antes. Por exemplo: esfregar as mãos uma na outra ou passar as mãos em qualquer superfície, respiração, vários bips que eram inaudíveis antes, passar as mãos nos cabelos (nem sabia que fazia barulho), entre muitos e muitos outros sons. A cada dia descubro um som novo. Escuto passos, já sei que alguém está chegando. A voz das pessoas, as músicas, tudo está com mais som.

Eu fiz uma comparação curiosa do antes e depois. Antes, quando estava meio "silencioso", eu gostava de cantar alguma música, pra fazer algum barulho e espantar o silêncio ou para me distrair. Hoje percebo que canto bem menos, acho que como agora tem som e barulho o tempo todo... nem sinto mais falta de cantar, apesar de gostar. Talvez para prestar atenção em algum som. Como agora, por exemplo: estou escrevendo aqui e escuto o barulho da ventoinha do computador e de alguém lá na cozinha mexendo em alguma coisa. O mouse faz barulho quando clico com ele. O celular toca na sala. TV ligada. E por aí vai.

O IC completa o aparelho com som que ele não capta, ao mesmo tempo que o aparelho me auxilia na compreensão da fala. Como meu ouvido implantado ficou mais de 30 anos sem audição, o cérebro leva tempo para se adaptar aos sons entrando por este ouvido. Por isso comecei a fazer fono.

Curioso que hoje acordei feliz e pensei: 1 ano! Fui pegar meu aparelho comum e ao colocar na orelha, quebrou o cabinho do molde e não pude usá-lo. Como já precisava sair logo em seguida pra levar as crianças à escola e ir trabalhar, não tive como levar meu aparelho para arrumar. Fiquei somente com o IC a manhã toda e uma parte da tarde.

E tive muitos motivos para comemorar o primeiro aniversário do meu IC. Nada mais justo que comemorar usando somente o IC! Com ele sozinho, de manhã, escutei uma frase o meu filho Gabriel, que tinha dito: "Isto é mentira!". Olhei pra ele e perguntei: Você falou "isto é mentira"? Ele confirmou. Sorri.

Na hora do almoço, ouvi claramente Paulo dizendo atrás de mim: O que você quer que eu faça? (ele estava meio cansado e não estava muito animado a fazer o almoço). Eu disse: Pode cortar a couve? Depois percebi que tinha ouvido e fiquei gritando de alegria por dentro.

Para poder explicar como é que escuto sons pelo IC que o outro ouvido não escuta mas ainda não tenho a mesma compreensão da fala, fiz uma comparação com a cirurgia refrativa da miopia que fiz há onze anos atrás. Quando sai da mesa da cirurgia, eu enxergava bem embaçado mas conseguia perceber o que era que estava vendo, se era uma pessoa, uma casa ou um carro. Não via a forma bem definida mas sabia discriminar ou distinguir o que era. E aos poucos, as coisas foram tomando forma até enxergar bem por completo. A mesma coisa acontece com a audição do ouvido implantado, só que, no meu caso, com um maior espaço de tempo, pois quanto mais tempo sem ouvir, mais difícil e demorada a adaptação.


terça-feira, 15 de abril de 2014

Primeiro dia na Fono

Hoje conheci a fonoaudióloga Nirley, com quem comecei a fazer fono. Amei conhecê-la! Ela foi muito indicada pela fonoaudióloga Elaine Soares, responsável pelo mapeamento do meu IC.

A verdade é que era pra eu ter feito isso há muito tempo (desculpa, doutora Elaine), mas o que aconteceu foi que agora sinto mais falta de uma ajuda. No começo, achei que era falta de adaptação, mas já se passou quase um ano e, embora ouça muitos sons somente pelo IC, ainda dependo da compreensão da fala que tenho com meu aparelho comum. Consigo falar no telefone ou entender uma pessoa falando sem olhar para ela, mas dificuldade de compreender as pessoas falando. No começo, somente pelo IC já era difícil, agora com o IC mesmo acompanhado do aparelho comum ainda mostro dependência deste último.

Hoje Nirley e eu conversamos sobre minha vida, de quando perdi a audição até atualmente. Foi tão agradável a nossa conversa que o horário passou e não percebemos.

Agradeço a Deus por ter me dado esta oportunidade, pois soube que seria muito difícil conseguir um horário com Nirley. Fui à clínica semana passada já quase certa que iria demorar para conseguir uma vaga, ainda mais com ela. Conversei com Mayara, a simpática atendente da recepção, que foi muito prestativa e super atenciosa comigo. Expliquei que tinha feito IC e que precisava fazer fono e me indicaram Nirley. Com muita tranquilidade, Mayara me explicou que seria um pouco difícil, mas que poderia sugerir outras fonos também muito boas. E sorrindo tranquila, eu disse que poderia ser outras fonos sim, mas de preferência, a Nirley. Mayara anotou os meus contatos e, para minha minha grata surpresa, me telefonou no dia seguinte! Já marcou pra mim pra começar na terça feira da semana seguinte (que foi hoje) com a Nirley!

E também agradeço a Deus pois me sinto cuidada por uma equipe reunida e que conhece a minha história. Um comunica o outro sobre a situação, estão interligados entre si. Foi assim desde o começo e é até hoje. E sei que Deus está cuidando de mim através deles.